sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O papel da internet nos movimentos sociais


Pra quem fica postando por ai (principalmente no facebook) coisas do tipo: "parem de ficar compartilhando fotos e protestos na internet e levantem e vão pras ruas", saibam de algumas coisas:

-A internet, hoje, é a maior, mais facil e mais rapida forma de comunicação existente;
-Pessoas do mundo todo criam movimentos e chamam mais pessoas para ele, através da internet;
- Pode-se compartilhar publicidade de campanhas, chamando mais gente a participar;
- Pode-se compartilhar fotos de pessoas e animais desaparecidos, assim como criminosos foragidos;
- Também há a possibilidade de compartilhar abaixo assinados, e já sabemos que dá resultado;
- Além do compartilhamento de ideias, que é muito importante. Não há mais necessidade de ir as ruas gritas aos 4 ventos o que se pensa;
- Também pode-se compartilhar seus trabalhos, entre outros;
- Pode-se criticar. Hoje muitas empresas levam em conta as criticas on-line, muitas vezes mais do que as feitas por telefone ou outro meio;
- Os adolescentes, principalmente, têm uma vida virtual muito ativa, e, através da internet, a informação chega diretamente a eles;
- E muitas, muitas outras coisas que FUNCIONAM.

Todos devem entender que, por conta de globalização e outros motivos, a internet se tornou parte complementar de nossas vidas. Não há como negar essa realidade, tampouco rejeita-la, pois ela faz parte do sistema que vc vive.

Tá, as pessoas vão menos as ruas, mas, elas iriam mais se acabassem esse movimento virtual?
E seria melhor parar com tudo isso e compartilharmos somente piadas e coisas futeis?

Além do mais, aposto que a maioria das pessoas que criticam esses "movimentos modernos", também não se levantam pra protestar nas ruas.

Reflita ;)


Para complementar o que eu disse acima, aí vai um texto interessante:


Internautas do mundo todo, uni-vos!

Ferreira Gullar

Desconfio que algo de novo está acontecendo no planeta. Começou no Oriente Médio e no norte da África e agora se estende por outras partes do mundo, chegando até o Brasil e os Estados Unidos.

É evidente que estou generalizando, uma vez que o que levou as pessoas às ruas no Egito e na Líbia não foi a mesma coisa que agora as mobiliza em quase cem países e quase mil cidades. As causas são diversas, e o número de manifestantes varia muito de país para país.
Não obstante, podemos chegar a uma primeira conclusão: por mais diferenças que haja entre essas manifestações, boa parte delas tem em comum ser espontânea e não ter sido organizada por partidos políticos nem entidades de classe. São o que apelidei de "manifestações do povo desorganizado".

Há ainda outras diferenças, uma vez que as motivações não são as mesmas e o adversário a vencer tampouco, já que no Egito e na Líbia, por exemplo, o inimigo era o regime autoritário, antidemocrático, e nos Estados Unidos ou na Itália, não se trata disso.
Por essa mesma razão, naqueles países, o objetivo era pôr abaixo o regime, ainda que a custo de uma guerra civil, enquanto, do lado de cá, seja na França ou na Grécia, protesta-se contra medidas conjunturais tomadas pelo governo em face da crise que lhes abala a economia. Devemos observar, no entanto, que, embora coincidindo em alguns aspectos, essas manifestações diferem pouco dos atos de protesto mais ou menos habituais.
Já o que ocorre em países como os EUA e o Brasil tem outro caráter, não apenas porque não tem por trás partidos políticos e sindicatos mas também porque os motivos daqueles outros protestos são conjunturais, diria mesmo tradicionais.
O leitor pode estar achando pouco clara essa minha exposição, e com razão, porque, de fato, esforço-me, eu mesmo, para entender o que ocorre ao mesmo tempo em tantos países e que não é fácil de definir.

Mas vamos tentar. Comecemos por um fator que é novo e comum a essas manifestações do povo desorganizado: a internet. Sem ela, certamente seria impossível mobilizar tanta gente para trazer a público seu descontentamento ou sua indignação.
Na Líbia, na Síria, o povo se ergueu contra a falta de liberdade e os privilégios de que gozam os donos do poder e clama por democracia. Onde há democracia, como nos países ocidentais, as causas do descontentamento são outras; atrevo-me a dizer que se rebelam contra os excessos do regime capitalista. E aqui me parece estar a novidade. É isso aí: os jovens dos países capitalistas vão à rua para exigir mudanças radicais no capitalismo.
A coisa ainda não está explícita e daí a dificuldade de apreendê-la e defini-la. Mas é isso que me parece surgir nas ruas dessas numerosas cidades: uma visão crítica do capitalismo que não tem nada a ver com Karl Marx nem com o que se define como esquerda.
Se meu palpite está certo, trata-se de um fenômeno pelo menos curioso: alguns líderes dessas manifestações denunciam o que há de negativo no regime econômico que conquistou o mundo inteiro, até mesmo a China, onde o Partido Comunista se mantém no poder.
Como essas manifestações nada têm de ideológico, consequentemente não pretendem substituir o capitalismo por outro sistema econômico, isto é, substituir a propriedade privada dos meios de produção pela propriedade social daqueles meios, tal como pregava o marxismo e que resultava, de fato, em entregar a gestão da economia aos burocratas do partido.
Ninguém mais pensa nisso e, não obstante, os indignados de hoje consideram o capitalismo um regime injusto, cruel e corrupto, que não pode continuar como está.


Os comunistas diziam a mesma coisa para apresentar, como alternativa aos governos burgueses, a ditadura do proletariado (que, aliás, nunca ocorreu). Mas isso está fora de cogitação.
Não obstante, tendo derrotado o comunismo e se tornado o dono do pedaço no mundo inteiro, o capitalismo agora é questionado -sem "parti pris" ideológico- por aqueles que nunca leram Marx.
Por isso mesmo, não podem os seus defensores alegar que os que estão nas ruas exigindo mudanças são subversivos a serviço de Moscou ou de Pequim, hoje tão capitalistas quanto Nova York ou Londres.

Fonte: ILUSTRADA/FOLHA DE S. PAULO, p.E14,  23 de outubro de 2011.

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